terça-feira, fevereiro 09, 2010

A espera...


Não é a espera do pássaro. Essa é a espera que lhe é inerente, que a natureza lhe destinou. É a espera de quem se alimenta dos restos. Não, não é essa espera que esta imagem me transmite. É a espera da criança. Que, infelizmente, é uma espera desesperançada. É a espera dos pobres, não dos paises, mas das pessoas, que esperam que os ricos, os paises e as pessoas, decidam deixar de ser menos ricos e façam alguma coisa para todos deixarem de ser pobres... É essa espera. A "crise financeira" andou e continua a andar nas bocas do mundo. Mas não do mundo todo. Se calhar nem sequer de metade do mundo. Para os que são pobres, para os que são realmente pobres, não há crise financeira. Nem nunca houve. O que há é a luta diária para sobreviver. Não para viver, para sobreviver. E, na maioria das vezes, perdem.
Somos um mundo um bocado triste, em que uma duzia de senhores eleitos para serem os donos da riqueza, vão lançando umas esmolas aos pobres, em faustosas cimeiras devidamente mediatizadas para polir bem o seu orgulho e mostrar quão preocupados estão com o problema da pobreza. E continuam a gastar o seu dinheiro em guerras por petróleo e por isto e por aquilo, e por todo o lado, pessoas continuam a morrer de fome... a morrer de fome!
Desde a revolução industrial que a humanidade avançou de uma forma brutal e rápida em termos de desenvolvimento, descobrindo e criando coisas que permitiram produzir muito mais e criar muito mais riqueza. Temos internet, eu posso estar a escrever estas palavras num portátil com cinquenta mil funções, alguém as pode ler num laptop enquanto viaja num comboio super rápido a caminho do seu emprego num laboratório que produz medicamentos que curam inúmeras doenças, enquanto come uma barra energética baixa em calorias porque está de dieta... e milhões de pessoas morrem de fome. Gastam nem imagino quanto dinheiro em material de guerra e em guerras... e milhões de pessoas morrem de fome. Temos uma estação espacial, que agora até vai levar uma cúpula panoramica, temos aviões ultrasónicos, temos navios de luxo e carros fantásticos... e milhões de pessoas morrem de fome. Descobrimos a cura de montes de doenças, uma série de vacinas, aprendemos a produzir comida de uma forma brutalmente mais eficiente... e milhões de pessoas morrem de fome...
Que raio de humanidade é que tem lideres destes? Que, apesar de tudo o que têm à disposição, deixam que imagens destas ainda existam... Eu gosto muito deste desenvolvimento todo, "mea culpa" também, obviamente. A responsabilidade é de todos nós, simples mortais trabalhadores, classe média que tem possibilidades de estar a escrever e ler este post, pois apesar de não mandarmos no mundo nem sermos os senhores da riqueza, ajudamos a produzi-la e somos donos de alguma... é óbvio que gostamos do nosso conforto, da nossa vida... eu gosto e sinto-me um felizardo por ter nascido numa familia trabalhadora deste Portugal. Mas não podemos, ninguém pode nem deve, ficar indiferente a imagens destas. Não é admissivel que neste século XXI milhões de pessoas morram de fome por esse mundo fora. Já não estamos na Idade Média, porra!! E, neste caso, ninguém pode pôr as culpas na crise do "sub-prime". A culpa é de todos. Muito mais de uns que de outros, mas de todos.

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