sexta-feira, novembro 27, 2009

(Re)Começar

Nada melhor que partir para uma nova fase da minha vida com um "break" numa cidade que sabe bem o que é recomeçar. Uma cidade que já foi destruida e reconstruida vezes sem conta, já trocou de mãos entre povos outras tantas vezes, já foi católica, ortodoxa, muçulmana... já se chamou Calcedonia, Bizâncio, Constantinopla... Agora chama-se Istambul e é o ponto de confluência entre o Oriente e o Ocidente. Pelo menos geograficamente. E, se calhar, culturalmente também. Do pouco que conheço, é um "melting pot" de culturas e de gentes onde apetece mergulhar. E é precisamente isso que vou fazer. Antes de arrancar com uma nova fase de vida, vou passar uma semana a sentir o pulso a essa fabulosa cidade que é Istambul. Com o meu Amor, vamos perder-nos pelas ruas, pelos mercados e pelos cafés, ouvir o que as gentes e as pedras têm para nos contar, ver o Bósforo a embalar os barcos e as vidas, a unir e a separar dois continentes, dois mundos... e tantos mundos que esse mundo tem e que Istambul terá também, certamente, para descobrir... A ver vamos.

Michael Moore


Depois do que já vimos o Michael Moore fazer, confesso que estou curioso para ver a sua última obra. Desta vez o menino está a mexer com o pessoal do guito, e parece-me que são eles que mandam nesta merda toda... a ver vamos se consegue ser tão corrosivo e acutilante como já nos habituou.

segunda-feira, novembro 23, 2009

(In)Tolerância

É com uma certa incredulidade que vejo a noticia que a Suiça vai mesmo a votos para proibir a construção de minaretes nas mesquitas do país. O Partido Popular Suiço conseguiu as assinaturas necessárias e o assunto vai mesmo a referendo no próximo Domingo... nem tenho palavras para esta proposta... apenas espero que os votantes Suiços mostrem nas urnas que esta é uma proposta inqualificável! Mais ainda num pais que sempre fez questão de se manter neutro e onde 25%, ou mais, da população é estrangeira. Independentemente do resultado, só o facto de ir a referendo já me deixa preocupado. Mas o que é isto? Proibir a construção de minaretes? Porque são um simbolo da intolerância islamica? Estes senhores querem, portanto, falar de tolerância...Não tenho palavras. Parece uma anedota. Ou não, infelizmente. E a seguir, o que é que virá? O galo de Barcelos que se acautele, estes senhores ainda acham que é uma representação do demo que os tugas por lá andam a espalhar e promovem a sua destruição em massa...

sexta-feira, novembro 20, 2009

Realidade


Quando, cada vez mais, toda a gente clama pelos seus próprios direitos, não convem esquecer que eles não têm voz para isso...

Saudades

Fez no Domingo um ano que o mundo ficou muito mais pobre. Pelo menos o meu mundo. Perdi, perdemos, de repente, uma das mulheres mais marcantes que já conheci. E pela qual tinha, tenho, um Amor e uma admiração enormes. Uma mulher que há 40 anos vestia de preto e mal saía de casa. Religiosamente, saía ao Domingo de manhã para ir à missa e depois para ir ao cemitério. Sempre me comoveu a forma como, mal lá chegava, ía beijar a foto do marido com as lágrimas a escorrer pela cara... 40 anos depois de o ter perdido, amava-o como no dia em que se casou. Nos 34 anos que tive o previlégio de a conhecer, foi isso que mais me marcou, a sua gigantesca capacidade de Amar. Dedicou a sua vida a amar a familia. Foi mãe, avó, tia, prima, irmã... dos seus e dos que, não sendo seus, passaram a ser, pelo amor e pela dedicação que lhes tinha. A única coisa que a ouvi pedir a Deus para si própria, foi que, quando morresse, que fosse repente, para não dar trabalho nem preocupações a ninguém. De resto, pedia a Deus por todos. Sofria com o sofrimento dos outros, alegrava-se com as nossas alegrias... estava sempre lá, discreta, no seu cantinho, a chorar de felicidade por nos ver felizes, a chorar de tristeza por nos ver tristes, a rezar por nos ver preocupados... Criou não sei quantas gerações da minha familia, de amigos meus, de amigos dos meus pais... mais do que tudo, as crianças eram a sua maior alegria...
Fez no Domingo um ano que esta velhota encheu uma igreja, encheu uma estrada de gente, encosta acima, para se despedir dela uma última vez. Gente triste, de lágrimas nos olhos por a ver partir, mas felizes por termos tido a sorte de a conhecer. Velhos, menos velhos, jovens, adolescentes, crianças, no meio da dor de a perder, notava-se em todos uma especie de felicidade, de serenidade, porque era de uma grande mulher que nos estávamos a despedir, e a todos, de uma forma ou de outra, ela tocou. Mais do que para dizer adeus, juntou-se uma multidão para dizer Obrigado! Deus acedeu ao seu pedido. Morreu de repente, sem sofrer, sem dar trabalho a ninguém, sem entrar em decadencia... A última imagem que tenho dela é de duas semanas antes, a rir e a chorar ao mesmo tempo e a rabujar "mas para que é que é isto, havia alguma precisão de fazer isto...", atrás do seu bolo de aniversário, a apagar as velas antes de nós acabarmos de cantar... Acredito que, com todas as dificuldades que teve na vida, foi feliz. Teve uma vida que valeu a pena. E, como ouvi alguém dizer, de certeza que todas as crianças do céu estavam à espera dela para a receber... e eu acrescento que o meu avô também.
Fez no Domingo um ano que eu fiquei mais pobre. Perdi uma das grandes referencias da minha vida. Fica a saudade, as memórias e as recordações, o Amor que ela me tinha, nos tinha, porque esse só há-de morrer quando o último de nós morrer... e fica aquele sorriso meio envergonhado, emoldurado pelas rugas de uma face marcada por uma vida a sofrer pelos outros... Um grande beijo e um Muito Obrigado, Avó!

quarta-feira, novembro 18, 2009

Parabéns Calvin & Hobbes



Pois é, um dos meus heróis favoritos faz hoje 24 anos. Apesar de manter sempre os mesmos 6 anos, o Calvin faz hoje 24 anos. Foi em 18 de Novembro de 1985 que a primeira tira de Calvin & Hobbes foi publicada. Parabéns!
O Calvin e o seu inseparável amigo Hobbes são as minhas personagens de BD favoritas. Tanto assim que as minhas cadelas chamam-se Calvin e Susie e a minha gata, Hobbes. A cadela mais nova não se chama Miss Wormwood porque já era um nome mais complicado para a chamar... e a minha mulher não deixou.
O Calvin é aquele miúdo que tem uma visão do mundo que eu gostava de ter até morrer de velho, tem um sentido de humor corrosivo, tem uma inocência e uma matreirice que todos tinhamos quando erámos crianças mas que, ao longo dos anos, vamos perdendo... acima de tudo, nutre uma amizade enorme pelo seu grande Amigo. Sabe o que é ter um Amigo. Sabe ser Amigo. E isso é o mais importante daquelas tiras. A Amizade brutal entre aquele puto e o seu tigre de peluche. Que não é um tigre de peluche, para mim, o Hobbes é mesmo um tigre a sério. Pelo menos é um Amigo a sério!
Parabéns Calvin! Parabéns Hobbes!

quarta-feira, novembro 11, 2009

Sentido de Humor

Ontem estive a ler a entrevista do António Vitorino à "Única" e a frase dele "não confio em pessoas que não são capazes de se rir de si próprias" fez-me um "tlint". Não é tanto a questão de confiar ou não confiar, não sei se confio ou não em pessoas assim, trata-se acima de tudo de gostar... não gosto de pessoas que não se sabem rir de si próprias. Acho que o sentido de humor é das coisas mais importantes que temos, permite-nos não enlouquecer no dia-a-dia Mas o sentido de humor, a capacidade de rir com situações que, á primeira vista, até nem têm muita graça, tem de começar por nós próprios, senão, em vez de sentido de humor é estupidez. Gosto de rir. Acho que faz bem, é terapeutico. É o melhor anti-depressivo que existe. E antes de mais, rio-me de mim. Das situações em que me meto, das figuras de parvo que faço, das ideias estupidas que tenho. E depois rio-me com os meus amigos. Das situações em que eles se metem, das figuras de parvo que fazem, das ideias estupidas que têm. Já há muitos anos que, naquele grupo de Amigos a sério, nos tratamos uns aos outros por "palhaços". Somos os Palhaços! Rimo-nos de nós próprios, gozamos connosco e, de cada vez que estamos juntos, é uma terapia. Do riso, claro está, mas não só, porque nem só de riso vive o Homem. Vive também de coisas sérias. E as coisas sérias devem ser levadas a sério. Devem ser tratadas de forma séria. Mas devem ser vividas com humor.

Rir de nós próprios, gozar connosco, ver a vida pelo lado divertido, rir para não chorar... não é solução para montes de coisas, se calhar para quase nada, mas ajuda muito a viver melhor. Tal como o Brian, always look on the bright side of life...

Some things in life are bad
They can really make you mad
Other things just make you swear and curse
When you're chewing on life's gristle
Don't grumble, give a whistle
And this'll help things turn out for the best
And...

...always look on the bright side of life
{whistle}
Always look on the light side of life
{whistle}

If life seems jolly rotten
There's something you've forgotten
And that's to laugh and smile and dance and sing
When you're feeling in the dumps
Don't be silly chumps
Just purse your lips and whistle - that's the thing

And... always look on the bright side of life
{whistle}
Come on
Always look on the bright side of life
{whistle}

For life is quite absurd
And death's the final word
You must always face the curtain with a bow
Forget about your sin - give the audience a grin
Enjoy it - it's your last chance anyhow

So always look on the bright side of death
Just before you draw your terminal breath
Life's a piece of shit
When you look at it
Life's a laugh and death's a joke, it's true
You'll see it's all a show
Keep 'em laughing as you go
Just remember that the last laugh is on you

And always look on the bright side of life
{whistle}
Always look on the right side of life
{whistle}

Come on guys, cheer up

Always look on the bright side of life...

Always look on the bright side of life...

Worse things happen at sea, you know

Always look on the bright side of life...

I mean - what have you got to lose?
You know, you come from nothing
- you're going back to nothing
What have you lost? Nothing!

Always look on the bright side of life

sexta-feira, novembro 06, 2009

Voltei a escrever

Eu adoro ler. E adoro escrever. mas já não escrevia há muito tempo. O meu livro, começado há imenso tempo, estava mais que parado. Parado porque eu não escrevia, parado porque estava num beco sem saída. Eu tinho toda a história na cabeça, só faltava acabar de a pôr cá fora. Mas essa história, esse livro, já não me fazia muito sentido. Por isso reinventei a história. Ainda não sei como vai acabar, mas já está a correr... aqui fica, só para abrir o apetite (ou não), o principio do livro.


Sorriu-me e, com toda a calma do mundo, como se quisesse guardar para sempre aquele momento, disse-me, entre um círculo de fumo e um gole de vinho:
- Quando conseguirmos realizar todos os nossos sonhos estaremos condenados à infelicidade ou à solidão…
Olhei-a, um pouco confuso. Não sabia se era do álcool, se da afirmação dela, mas aquela cena estava a parecer-me um bocado parva.
- Porquê?
- Imagina que o teu sonho era viver comigo numa cabana frente ao mar…
- Mas achas que eu queria alguma vez viver contigo??!!
- não interessa, imagina que era esse o teu sonho. Agora imagina que todos os nossos sonhos se realizavam… eu detesto o mar e ia ser infeliz junto ao mar… logo, tu ias ser infeliz também, porque eu estava infeliz…
- não percebi…
encolheu os ombros e riu, como que a dizer “nem eu percebi…”. Gostava de a ver rir. Tinha um riso largo, que a deixava ainda mais bonita, com duas covinhas na cara.
- vê lá se percebes o que eu quero dizer… - fez uma cara engraçada enquanto tentava perceber o que me queria explicar – o que eu quero dizer é que temos de ter cuidado com o que sonhamos, porque podemos arriscar a que o sonho se concretize… - fez uma pausa.
- e…???
- e então, pode não ser o que estávamos á espera!
- Mas pode ser..!!?
- E achas que vale o risco?
- Então não vale, é um sonho nosso…!!!
- Mas o problema é que nós só sonhamos o principio das coisas…
- hã? – já não era ela, era o álcool.
- Sim! – deve ter começado a perceber a ideia que me estava a vender e começou a entusiasmar-se – volta a imaginar que estavas apaixonado por mim e que o teu grande sonho era viver comigo numa cabana em frente ao mar…
- Ok, já estou a imaginar…
- E então?
- Então o quê?
- Como é que é?
- Como é que é o quê?
- Estamos os dois a viver numa cabana em frente ao mar, e depois?
- Então e depois nada! Estamos os dois muito felizes a viver numa cabana em frente ao mar…
- Pronto, aí está o problema! O teu sonho acaba quando começa a realidade. Acaba quando estamos os dois a chegar á nossa cabana nova em frente ao mar… e depois? No dia seguinte? E na semana seguinte? E daí a um ano? Éramos infelizes porque tu realizaste o teu sonho…
- ????
- Sim. Eu detesto praia, não gosto do mar, a areia irrita-me… e vivíamos de quê?
- Eu trabalho, tu trabalhas…
- Fazíamos uma hora e meia de caminho para cada lado para ir trabalhar… chegávamos a casa de rastos e sem paciência para nada… no inverno a barraca metia água por todos os lados…
- Cabana!
- Pronto, cabana. No verão fazia um calor que não se podia dormir… e os putos?
- Quais putos?
- Os nossos putos!
- O que é que têm?
- Como é que era a vida deles? Faziam castelos na areia, corriam atrás das gaivotas e apanhavam berbigão para se entreterem? Ou a barraca, cabana, tinha eletricidade?
- O quê?? Mas está a falar de quê?
- Dos nossos sonhos! Acabam quando começa a realidade! Nós idealizamos uma coisa, uma vida, alguém e vivemos em função de conseguir isso, mas não sonhamos para além disso…
- Mas isso é a vida…
- Repara que as histórias dos príncipes e das princesas acabam quando eles ficam juntos…
- Sim, ficam juntos e foram felizes para sempre!
- Foram o caraças!
- Mas como é que sabes que não foram?
- Olha lá, o príncipe encantado conhecia a bela adormecida de algum lado? Sabia se ela era ciumenta, se era chata, se tinha ideias parvas, se gostava de dançar, se queria ter filhos… não sabia nada dela! Sabia que era gira e queria aviá-la…
- Queria aviá-la? Se calhar queria, mas era mais do que isso, queria casar com ela. Por isso é que teve aquele trabalho todo para a encontrar…
- Ora aí está! – os copos estavam a fazer efeito. Já se julgava o melhor condutor do mundo – o sonho do príncipe era casar com a princesa que estava presa na torre,
- Com a bela adormecida!
- Uma gaja dessas, pronto. O sonho dele era ir salvar a miúda e casar com ela… então e depois? Passado um ano a gaja tinha-lhe derretido o dinheiro todo em jóias e roupa, andava enrolada com o melhor amigo dele, não a podia levar a lado nenhum que a gaja não mandava uma p’rá caixa…
- Mas como é que sabes?
- Não sei, mas ele também não! Por isso, como é que o sonho dele pode ser casar com ela?
- Porque está apaixonado por ela!?
- Ok, e então?
- Então o quê?
- Estão muito apaixonados um pelo outro, por isso casam e pronto, está o sonho concretizado… e depois?
- Então ignoramos os sonhos? Estou apaixonado por ti, nem durmo a pensar em ti, ando parvo porque só sonho estar contigo, tu, por acaso, também me achas engraçado e também gostas de mim, mas, como isto pode não correr bem, o melhor é estarmos sossegados cada um no seu canto… bem, se tu mandasses no mundo pelo menos não havia problemas de super população…
- Não, parvo!! O que eu quero dizer é que… o que eu quero dizer é que não podemos achar que…
- Que a vida é só rir e comer bolachas!
- Exactamente! Nós idealizamos certas coisas, achamos que quando conseguirmos isto ou aquilo, ou se conseguirmos isto ou aquilo, aí sim, a nossa vida vai ser uma maravilha e vamos ser felizes… mas não pensamos que quando lá chegarmos começam outros problemas…
- Mas isso é a vida, minha querida!
- Está bem, mas o que eu quero dizer… - já estava a ficar cada vez mais confusa – olha o que eu quero dizer é que tenho o copo vazio!!
- E o teu sonho é tê-lo cheio…? Mas sabes que, se eu o encher, tu vais bebê-lo e amanhã estás de ressaca… não podes sonhar só em ter o copo cheio. Se concretizares esse sonho as coisas a seguir podem correr mal…
- Vai-te foder e dá-me vinho!
A conversa continuou, ao mesmo ritmo da garrafa de tinto, sobre isto e sobre aquilo, mas acima de tudo sobre nada. Falávamos da vida. Das nossas vidas. De estarmos ali os dois, sentados em almofadas no chão da minha sala, das vidas que tínhamos antes um do outro, das que queríamos ter tido, das vidas que nunca iríamos ter… e de sonhos e esperanças que se foram perdendo e ganhando. E dos amigos. E dos sonhos e das esperanças dos amigos. E de coisas parvas. Abrimos mais uma garrafa e voltámos à carga das palavras. Se fosse um filme, a câmara ia andar pela sala de forma intimista, ia focar aquele golem que tinhamos trazido de Praga, voltava a um grande plano da cara dela, a mostrar a beleza lenta que ela tinha, afastava-se e mostrava um plano panorâmico da divisão onde estávamos, focava, de longe, um livro qualquer…ia haver uma atmosfera enfumarada, não em demasia, apenas as volúpias do fumo dos nossos cigarros a subir para o tecto, a dar aquela ar azulado à cena, com luzes baixas e ao fundo, entre as palavras, as minhas palavras e as dela, íamos ouvir, baixinho, um chill out qualquer…